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18/12/2013

ilha

tenho os pés encostados à parede. 
ouve-se o som das unhas a raspar nas rugas da tinta que há muito secou, 
enquanto balanço as pernas numa dança
que não é bem dança,
mas um balanço vagaroso e demorado,
ao som do nada.

penso em nada também, com os olhos postos no céu
e o corpo no mar (que não existe) que me embala
e me faz ''dançar''.
flutuo com nenhum vigor sobre mim própria e
vejo-me de cima.

[sonho um pouco acordada:
lembro-me de que tenho medo do mar e,
que mesmo assim,
me envolvo nele. nas ondas, 
no verde e no branco,
nos reflexos translúcidos de mim nele]

os meus pés outra vez.
a ponta das unhas está branca, com restos da pintura a cal
que destruí sem querer,
por estar perdida sem sequer me mexer.

enrolei-me e adormeci
com as dores habituais, e os braços mortais
debaixo do corpo que se cansa sem se cansar,
e os dedos dormentes de uma pesquisa às feridas-fantasma.

tenho medo.
não sei o que há, mas penso no que poderá haver.

e entre as ondas
e os medos
e os pés
e os braços
e o corpo cansado, sem estar cansado
e a alma que é dura e a penugem dos braços que levanta quando a brisa passa,
estou eu no meu mundo,
que é mais pequeno que uma pequena aldeia perdida
numa ilha desconhecida,
que nem eu conheço.